terça-feira, 14 de julho de 2015

[RELATO 4] - Devaneios de um Sacerdote - Eobald Thurion

Inexperiente, medroso e de pouca fé. Essas palavras são o ápice deste relato. Como foi que eu cheguei até aqui sendo o que sou? Outrora apenas um filho de um grande Duque, que servira ao reino de Cormyr nos seus dias gloriosos. Hoje, apenas um medroso que sucumbiu aos grandes Morcegos da caverna onde se encontra o Ogro Mago. Foi a melhor decisão a ser tomada? Onde estava a minha fé? Talvez não seja o sacerdote que pensara ser há algumas cavalgadas atrás. Um homem que dias atrás se jogou entre fendas dentro de um lago para salvar um Elfo que mal conhecia, tudo em nome da fé, acreditando nas bênçãos de Tyr. Com maestria e fé salvei Kheldrim, o arranquei daquela criatura sem nem pensar duas vezes, em nome de Tyr estava disposto a substituir sua vida pela minha. Aliás não o salvei apenas uma vez, e sim várias, mas são histórias passadas, onde a fé dominava meu corpo e minha mente, o pensamento em Tyr se sobressaía aos perigos que enfrentamos aos longos dos dias nesta caverna escura e totalmente estranha para mim. Nunca entrara em uma caverna antes, depositei minha confiança em pessoas que nunca tinha visto na vida. Um Humano, um Anão e um Elfo. Kheldrim se demonstrou ser uma pessoa reclusa, preferia a solidão a companhia de seus novos "amigos". por vezes conversava com o Anão, no começo era o que mais interagia com Kheldrim, os dois trocavam uma palavra ou outra, Oskar tentava puxar assunto e secamente Kheldrim respondia. Histórias e mais histórias para contar. Quem sabe quando acabar eu não pegue esse amontoado de papel e faça um livro? Mas, e se eu morrer? Bem, vamos continuar.

Era mais um dia ordinário em nossas novas vidas. Entrávamos na caverna, matávamos o que conseguíamos e deixávamos o local para voltar num momento mais preparado. Uma caverna escura e cheia de perigos, desde goblinóides a serpentes, passamos também por aranhas gigantes, um grande susto ao grupo, pois mais uma vez, Kheldrim quase morreu, e eu, mais uma vez procurei o salvar, sem pensar duas vezes. Mas no fim, acabei sendo salvo pelo anão e pelo debilitado mago, que sofreu muito em batalha também. Tyr mais uma vez, nos abençoou. A cada nova investida, a cada nova experiência, mentalmente agradecia ao meu Deus por ter me fornecido tudo o que atualmente eu tenho, ou pensava ter.

O grupo por um momento se separou, decidimos que eu e Edwin iríamos para Neverwinter, com as informações que Bastur  nos passou sobre o Ogro Mago, decidimos nos preparar, nos municiar para o que estava por vir. Nossa missão até ali tinha terminado, limpamos de certa forma a caverna, por isso recebemos duzentas moedas de ouro cada. Quando decidimos continuar e matar o Ogro, o prêmio mexeu com a cabeça de todos, Bastur irá encantar algum item que desejamos, o pensamento por poder era visível entre todos, com isso cada um estaria um passo a mais de cumprir seus objetivos. Voltando ao ouro, para mim não é uma grande quantia, mas percebi nas feições dos demais que o ouro agradou a todos, como cachorro com fome, ávido pelo pedaço de carne. O mago Edwin conjurou uma espécie de cavalo mágico, o qual nos ajudou a chegar com rapidez a Neverwinter. No caminho vi pássaros que antes nunca tinha visto, viajamos por um caminho seguro, que aos poucos estava se tornando familiar ao grupo. Pensei na minha casa, no aconchego de minha cama quente de penas, e como agora ela devia estar. Dominada provavelmente por aquelas criaturas imundas, pensei. Chegando em Neverwinter combinamos um horário adequado e seguimos nossos rumos separados. Fui diretamente ao templo de Tyr, onde lá orei por um tempo, solicitando forças e agradecendo pela vida e pelos novos amigos. Me senti renovado e dali fui conversar com um sacerdote, para que o mesmo me indicasse onde poderia conseguir algumas poções de cura, as quais iríamos precisar, e muito. O sacerdote me indicou o Acólito, aquele sem nome, sacerdote supremo do templo. Me dirigi ao grande jardim e lá ele estava, podando algumas plantas, calmo e austero. De longe passava uma aura forte. Segui em direção ao acólito. Minha inexperiência nos assuntos religiosos se fez presente na conversa, a qual não foi produtiva. Solicitei ao Acólito algumas poções e fui questionado de o por quê. Expliquei a nossa situação e troca recebi um sermão tão grande que ecoará pelos meus pensamentos por um tempo. - Sua fé em Tyr não basta sacerdote? Penso que você está fazendo isso não em nome dele, e sim em seu nome - Respondeu o Acólito. Com isso fiquei sem saber o que falar e me retirei do local, o pensamento pesava e as palavras me mercaram. Não tinha como comprar, sei que potes de cura são caros e pretendo guardar as peças para futuras aventuras que talvez venha realizar. Fui às docas, o mal cheiro e pedintes impregnavam o grande local, ali comprei tochas e óleo, me encontrei com Edwin, o mago foi em direção a uma taverna barata comprar vinho, por minha vez me dirigi ao Cálice Dourado, uma taverna de alto padrão, ali fiz amizade com o taverneiro, comprei presentes aos meus amigos, o qual pensei ser um modo de me aproximar mais do Oskar e do Kheldrim. Paguei 40 peças de ouro por 4 litros de vinho, 2 com sabor mais amadeirado e 2 com um sabor mais suave - Frutas da estação - Disse o taverneiro. Garrafas magníficas de cerâmica acomodavam cada litro de vinho, além de um queijo preto, o qual o simpático taverneiro me recomendou apreciar com o vinho doce, logo pensei em dividir o queijo com Kheldrim.

Me encontrei com Edwin no horário especificado e seguimos novamente em direção ao nosso acampamento. Pouco conversamos, cada um envolto em sua própria mente deturpada por eventos recentes, tantas novidades, tantos desafios, achávamos que aquilo não teria um fim, de cera forma não estávamos enganados, a caverna era grande e vários perigos espreitavam ali, sua paredes pareciam sussurrar palavras inaudíveis para nós, sempre achava que goblinóides estavam em nova volta, o qual nem sempre era um pensamento certo. Chegando ao acampamento me dirigi ao Oskar, entreguei dois litros de vinho e o mesmo bebeu como se não houvesse amanhã. Eu já esperava por isso, visto que os Anões apreciam mais uma boa cerveja que vinho. Tomei aquele gesto como uma forma de agradecimento, no fundo sabia que estava oferecendo um belo vinho a um Ogro, mas isso não vem ao caso, sua barba e sua expressão feliz me contentaram. A seguir conversei com Kheldrim, o abençoei como sempre e lhe mostrei as duas cerâmicas e o pedaço de queijo, logo percebi que o mesmo não espera um gesto e me agradeceu ao seu modo, conversamos um pouco e decidimos dividir o queijo em um momento mais oportuno. Como era um dia tranqüilo e ainda estava tarde, decidimos enfrentar alguns morcegos que se encontravam na caverna, os mesmos demonstraram serem grandes, porém nada impossível de se abater. - Se for para limpar a caverna, que não sobre nada então - Pensei comigo. Seguimos ao salão onde as criaturas se encontravam. A calmaria tomara conta do local, onde dias antes era infestada por criaturas vis. Seguimos eu e o Oskar lado a lado, com o mago e o arqueiro atrás. Era uma formação simples, mas que sempre nos forneceu uma base para as nossas conquistas. Chegamos e observamos, da mesma maneira que diversas vezes passamos por ali, os morcegos se encontravam, porém algo acertou a formação rochosa onde os Morcegos estavam instalados, e aquilo os provocou e os atraiu para nós. Nossas táticas foram ineficazes e vendo o que estava acontecendo, o desespero foi tomando conta do meu ser, 5 grandes Morcegos nos atacavam ferozmente, nossa estratégia básica foi por água abaixo e aos poucos meus amigos foram caindo, não conseguia acertar a minha maça com precisão, Oskar feriu gravemente um deles e com Kheldrim e Edwin caídos tomei a pior decisão em toda a minha vida. Gritei ao Oskar para que saíssemos dali, cada um pegaria o corpo de um amigo e correríamos para fora, sem cogitar a hipótese de ajudar os feridos ali mesmo peguei Edwin e num momento de inexperiência, medo e desespero corri. Fui sendo perseguido por 2 Morcegos, sentia minha fé fraca e o pavor de morrer numa caverna tomando conta do meu ser. O misto de emoções ruins impregnavam em meu coração. Percebi que estava cada vez mais escuro ali e quando realizei novamente estava na escuridão, não via um palmo na minha frente fiz uma prece para Tyr e abençoei o local com luz, minhas pernas trêmulas e um turbilhão de pensamentos me veio a cabeça, no desespero e despreparo consegui fazer com que o mago redobrasse sua consciência, o mesmo sem entender o que estava acontecendo se desvencilhou de meu braço e como por instinto se preparou para a batalha. Neste tempo já não sabia mais do Oskar, realmente achei que o mesmo faria o que anteriormente ordenara, mas pelo visto, não. Lutamos contra os Morcegos, ledo engano, quando percebi me encontrava caído, e novamente ao meu lado, o mago. Após isso sonhei com o templo, com Tyr e me via caminhando ao seu encontro, pedras e espinhos estavam sobre meus pés, a cada passo uma nova dor, no fundo sabia que estava sendo atacado pelos Morcegos, mas não me importava, estava a caminho do meu Senhor.         

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